março 04, 2020

Homem viaja do interior RN a SP para adotar cão que teve duas patas amputadas após atropelamento: 'Me sinto realizado'

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Marvin perdeu as duas patas traseiras após ser atropelado em SP — Foto: Arquivo pessoal

O cachorro de rua Marvin atravessava a rodovia Régis Bittencourt (BR-116), em São Paulo, quando foi atingido fortemente por um veículo no dia 23 de julho de 2017. Em estado grave, ele foi resgatado pela ONG "Cão sem dono", onde foi tratado e conseguiu se salvar. O acidente, no entanto, o deixou paraplégico e lhe tirou as duas patas traseiras - uma delas "esfarelou".

Após o tratamento, o vira-lata ficou à disposição para adoção, mas não conseguiu um lar durante esses quase três anos - situação que durou até 25 de janeiro passado. Foi quando o agente de viagens Everton Holanda deixou o município de Mossoró, na Região Oeste do Rio Grande do Norte, e pegou um avião para São Paulo para adotar Marvin - uma viagem de mais 2.500 quilômetros.

Everton Holanda saiu do RN para adotar Marvin em São Paulo — Foto: Arquivo pessoal

"Eu me penalizei, me sensibilizei com a situação e não coloquei obstáculos", contou o agente ao G1. Ele foi e voltou no mesmo dia em um voo que pousou em Fortaleza. Dormiu uma noite na capital cearense e no outro dia de manhã já estava em casa, em Mossoró. "Eu realmente só fui buscá-lo. Fui e voltei no mesmo dia".

Everton Holanda conta que ficou sabendo da notícia através de uma página da ONG "Cão sem dono" nas redes sociais. Ele passou a seguir diversas páginas sobre cães após o filho levar um filhote de pitbull há pouco mais de um ano para casa. "Eu comecei a pesquisar sobre a raça, que não é nada daquilo que falam. Fui adicionando páginas e me era sugerido páginas de ONGs. Até que eu cheguei a história de Marvin", explicou.

A primeira imagem com a qual se deparou foi um vídeo do resgate de Marvin após o atropelamento. Depois, viu vários momentos da recuperação do cachorro. "Sempre escreviam: 'Eu sou o Marvin e meu sobrenome é superação'. Então resolvi colocar realmente o sobrenome de Superação", falou.

"Eu sempre via as pessoas falando nos comentários que se morassem perto iriam adotá-lo, mas nunca ninguém adotava. Então decidi fazer isso".

O relacionamento com o outro cachorro da casa, o pitbull Bradock, é tranquilo. "A primeira coisa que fiz quando cheguei em casa foi colocá-los próximos. Eles se dão muito bem. Saímos para passear juntos também", contou.

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Vida adaptada

Com sete anos de vida, Marvin tem uma vida adaptada depois do acidente. Ele toma um medicamento diário até o fim da vida e se move apenas com as patas dianteiras.

"Em casa, a gente não tem medo de que ele se arranhe, porque o piso é liso. Então, ele se arrasta e consegue se locomover. Caso ele vá para a parte de fora da casa, colocamos um 'saco de arrasto' para evitar que ele se machuque. Quando o levamos pra caminhar, aí usamos uma cadeirinha para caminhada, que ele ganhou de uma madrinha", explicou.

No atropelamento, Marvin teve o rompimento da coluna, o que atingiu também os nervos da bexiga. Assim, ele não tem controle sobre a urina. "Ele faz xixi a qualquer hora em qualquer momento. Mas é preciso que a bexiga seja estimulada. Como ele se arrasta, geralmente esse estímulo acontece nesse movimento. Se não, eu preciso massagear a barriga dele", falou.

Everton Holanda contou ainda que Marvin não demorou a se adaptar à nova família. "Ele morava praticamente no consultório da veterinária. Desde a primeira hora que chegamos, ele pareceu perceber que eu sou o tutor. Sempre está atrás de mim", falou.

"Ele demonstra afeto e carinho por nós".

Participação nas redes

Everton Holanda explicou que muita gente criticou o fato da ONG ter deixado alguém tão distante de São Paulo ter adotado o cachorro, até pela preocupação em saber se Marvin seria bem tratado e com isso seria fiscalizado. Por isso, o agente de viagens decidiu criar uma página nas redes sociais. "Eu decidi fazer um diário para que essas pessoas pudessem acompanhar o dia a dia dele", disse. Hoje, a página conta com mais de 5 mil seguidores.

As condições especiais de Marvin tornam a rotina de Everton mais trabalhosa, mas ele diz que tudo é recompensador. "Ninguém me obrigou a nada. Eu peguei essa responsabilidade pra mim. É claro que tudo dá muito trabalho, mas eu me sinto realizado".

Marvin com a nova família em Mossoró — Foto: Arquivo pessoal

Fonte: G1/RN