junho 08, 2022

Remédio para câncer em estudo experimental surpreende com redução da doença em todos os pacientes

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Foi um estudo pequeno, com apenas 18 pacientes com câncer colorretal, e cada um tomou o mesmo medicamento. Mas os resultados foram surpreendentes. O câncer desapareceu em cada um dos pacientes – indetectável pelo exame físico; endoscopia; tomografia por emissão de pósitrons ou PET scans; ou ressonâncias magnéticas.

Luis Diaz Jr., do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, autor de um artigo que descreve os resultados, que foram patrocinados pela empresa farmacêutica Glaxosmithkline, disse que não conhecia nenhum outro estudo em que um tratamento tivesse uma remissão completa do câncer em todos os pacientes. “Acredito que esta é a primeira vez que isso acontece na história do câncer”, disse Diaz.

Alan Venook, especialista em câncer da Universidade da Califórnia, que não estava envolvido com o estudo, também acha que os resultados são inéditos. Os pacientes com câncer colorretal enfrentaram tratamentos como quimioterapia, radioterapia e, muito provavelmente, cirurgias que poderiam resultar em disfunção intestinal, urinária e sexual. Alguns precisariam de bolsas de colostomia. Eles entraram no estudo pensando que, quando terminasse, teriam de passar por esses procedimentos, porque ninguém esperava realmente que seus tumores desaparecessem. Mas eles tiveram uma surpresa: nenhum tratamento adicional foi necessário.

“Foram muitas lágrimas de felicidade”, disse Andrea Cercek, oncologista do Memorial Sloan Kettering Cancer Center e coautora do artigo, apresentado na reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica.

Outra surpresa foi que nenhum dos pacientes teve complicações significativas. Em média, 1 em cada 5 pacientes tem algum tipo de reação adversa a medicamentos como o que os pacientes tomaram, o dostarlimabe, conhecido como inibidor de check point. A medicação foi dada a cada três semanas durante seis meses e custou cerca de US$ 11 mil por dose. Ele “desmascara” células cancerígenas, permitindo que o sistema imunológico as identifique e as destrua. Embora a maioria das reações adversas seja facilmente controlada, de 3% a 5% dos pacientes que tomam esse tipo de medicamento apresentam complicações mais graves que, em alguns casos, resultam em fraqueza muscular e dificuldade para engolir e mastigar. A ausência de efeitos colaterais significativos, disse Venook, significa que “ou eles não trataram pacientes suficientes ou, de alguma forma, esses cânceres são simplesmente diferentes”. Hanna K. Sanoff, do Lineberger Comprehensive Cancer Center da Universidade da Carolina do Norte, que não esteve envolvida no estudo, o considera “pequeno, mas atraente”. Ela acrescentou, porém, que não está claro se os pacientes estão curados. “Muito pouco se sabe sobre o tempo necessário para descobrir se uma resposta clínica completa ao dostarlimabe equivale à cura”, disse. Kimmie Ng, especialista em câncer da Escola de Medicina de Harvard, disse que, embora os resultados fossem “notáveis” e “sem precedentes”, eles precisariam ser replicados.

ORIGEM DO ESTUDO. A inspiração para o estudo veio de um ensaio clínico que Diaz liderou em 2017, financiado pela farmacêutica Merck, envolvendo 86 pessoas com metástase (câncer que se originou em várias partes de seus corpos). Todos os cânceres compartilhavam uma mutação genética que impedia as células de reparar danos no DNA. Essas mutações ocorrem em 4% de todos os pacientes com câncer.

Os pacientes nesse estudo tomaram um inibidor de check point da Merck, pembrolizumabe, por até dois anos. Os tumores desapareceram em 10% dos participantes do estudo. Isso levou Cercek e Diaz a perguntar: o que aconteceria se a droga fosse usada muito mais cedo, antes de o câncer se espalhar?

Cercek havia notado que a quimioterapia não estava ajudando uma parte dos pacientes que tinham as mesmas mutações que afetaram os pacientes no estudo de 2017. Em vez de encolher durante o tratamento, seus tumores retais cresceram. Talvez, Cercek e Diaz raciocinaram, a imunoterapia com um inibidor de check point permitiria a esses pacientes evitar quimioterapia, radioterapia e cirurgia. O primeiro paciente foi Sascha Roth, de 38 anos, que notou um sangramento retal em 2018. “Eu disse a minha família e eles não acreditaram em mim”, conta Roth, sobre os resultados do tratamento.•

‘Eu disse a minha família e eles não acreditaram em mim’, conta Sascha Roth, paciente do tratamento.

Autor: GINA KOLATA
Fonte: pressreader.com/O Estado de S. Paulo