fevereiro 17, 2025

Nordeste tem 50% da agricultura familiar do Brasil, mas só 3% de mecanização

Nenhum comentário | Deixe seu comentário.
Alexandre Lima destacou que o Plano Safra 2023/2024 destinou quase meio bilhão de reais à agricultura familiar potiguar. Foto: José Aldenir / Agora RN

O Nordeste concentra 50% das propriedades da agricultura familiar do Brasil, mas apenas 3% delas são mecanizadas, segundo o secretário estadual de Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar, Alexandre Lima. O número é muito inferior ao registrado no Sul do país, onde a mecanização atinge quase 50% das propriedades do mesmo segmento.

De acordo com Alexandre Lima, essa diferença não foi acidental, mas resultado de uma opção do Estado brasileiro, que priorizou um modelo de mecanização voltado para grandes propriedades do agronegócio. “A mecanização no Brasil foi formatada para grandes fazendas, com tratores de alto custo que excluem a realidade do Nordeste, onde 50% das propriedades da agricultura familiar têm até 10 hectares e 93% estão no semiárido”, explicou.

O secretário destacou que, diante da ausência de equipamentos acessíveis, a agricultura familiar no Nordeste ainda depende da enxada, um cenário que remete a práticas agrícolas de mais de 200 anos. “Temos que fazer uma reparação histórica e investir em um novo modelo de mecanização, com equipamentos menores e mais acessíveis”, disse.

Para enfrentar essa realidade, o Governo do Rio Grande do Norte iniciou um projeto-piloto de mecanização adaptada à agricultura familiar, em parceria com a China. Pequenos tratores e máquinas de até 25 CV estão sendo testados em Apodi, no primeiro centro de tecnologia em agricultura mecanizada da América Latina.

Alexandre Lima destacou que o Plano Safra 2023/2024 destinou quase meio bilhão de reais à agricultura familiar potiguar, um crescimento de 75% em relação ao ano anterior. Segundo ele, esse tipo de financiamento é essencial para que pequenos produtores tenham condições de modernizar suas atividades e se tornarem mais competitivos.

Além disso, o governo estadual está incentivando a produção de alimentos sem agrotóxicos, fortalecendo programas de compras públicas para abastecer hospitais, escolas e presídios com produtos da agricultura familiar e ampliando a concessão de isenção fiscal para comerciantes que adquirirem alimentos produzidos por esse setor.

As políticas implementadas no Rio Grande do Norte chamaram a atenção da Organização das Nações Unidas (ONU), que recentemente indicou o estado como referência mundial em compras públicas da agricultura familiar. Como resultado, uma comitiva do governo do Quênia visitou o RN para conhecer de perto essas iniciativas.

Apesar dos avanços, Alexandre Lima ressaltou que o setor ainda enfrenta desafios estruturais, como a falta de assistência técnica. O último concurso da EMATER foi realizado no governo Wilma Maia, e o déficit de profissionais prejudica a ampliação do suporte aos pequenos produtores. “O Estado precisa ampliar o número de técnicos para atender à demanda da agricultura familiar e reduzir desigualdades”, afirmou.

A expectativa é que, com mais investimentos e políticas voltadas para a inclusão produtiva, a mecanização da agricultura familiar no Nordeste possa avançar, garantindo melhores condições de trabalho e impulsionando a produção de alimentos no campo.