

março 12, 2025
EUA confirmam tarifa de 25% sobre aço e alumínio do Brasil
Nenhum comentário | Deixe seu comentário.Lula criticou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em evento em Betim (MG). EUA confirmaram ameaça de taxar o Brasil | Foto: Reprodução
Produtos semiacabados de aço estão entre os principais produtos exportados pelo Brasil aos EUA, ao lado de petróleo bruto, produtos semiacabados de ferro e aeronaves.
Segundo dados do governo dos Estados Unidos, no ano passado o Canadá foi o maior fornecedor de aço, em volume, para os americanos, com 20,9% do total, seguido pelo Brasil (16%, com 3,88 milhões de toneladas, e o país com maior crescimento em relação às exportações de 2023) e o México (11,1%).
O Brasil ficou atrás do México em valores: recebeu US$ 2,66 bilhões, contra US$ 2,79 bilhões dos mexicanos e US$ 5,89 bilhões dos canadenses. Em janeiro, o Brasil foi o maior exportador do mês em volume (499 mil toneladas), ultrapassando o Canadá (495 mil toneladas).
Além disso, cerca de metade das exportações de aço do Brasil vão para os EUA, o que coloca em risco importante fatia da produção siderúrgica brasileira. Na ordem executiva de fevereiro, em que Trump anunciou as tarifas, ele mencionou o aumento expressivo de compra de aço da China pelo Brasil entre as justificativas para elevar as tarifas e cancelar cotas para grandes fornecedores.
“As importações brasileiras de países com níveis significativos de sobrecapacidade, especificamente a China, cresceram tremendamente nos últimos anos, mais do que triplicando desde a instituição deste acordo de cotas”, dizia um dos trechos da ordem executiva.
A imagem mostra várias barras de metal prateadas dispostas em uma superfície vermelha. Ao fundo, duas pessoas estão trabalhando em uma oficina, com máquinas e ferramentas visíveis. A iluminação é suave e o ambiente parece ser industrial.
Barras de aço em uma indústria no México – Daniel Becerril – 11.mar.25/Reuters
Na época, o Instituto Aço Brasil, que representa as siderúrgicas brasileiras, disse receber com surpresa o anúncio de Trump e rebateu o argumento. Em nota, a instituição negou que o Brasil estaria importando grandes quantidades de aço chinês para enviar a produção nacional para os EUA.
“Cabe ressaltar que o mercado brasileiro também vem sendo assolado pelo aumento expressivo de importações de países que praticam concorrência predatória, especialmente a China, razão pela qual o Instituto Aço Brasil solicitou ao governo brasileiro a implementação de medida de defesa comercial”, disse o Instituto no documento.
“Assim, ao contrário do alegado na proclamação do governo americano de 10 de fevereiro, inexiste qualquer possibilidade de ocorrer, no Brasil, circunvenção para os EUA de produtos de aço oriundos de terceiros países”, acrescentou.
Em 2018, o governo Trump também aplicou uma tarifa de 25% sobre o aço importado pelos EUA, mas dois anos depois, reduziu a cota de importação de aço semiacabado do Brasil. Em 2022, sob Joe Biden, os americanos revogaram as medidas restritivas.
Antes da confirmação da imposição das tarifas pela Casa Branca, diplomatas brasileiros estavam pessimistas em relação à possibilidade de recuo na taxa ao aço e ao alumínio e já falavam na necessidade de tentar reverter o estrago uma vez fosse feito.
Um integrante do governo brasileiro avalia, sob reserva, que o país precisará lançar mão de tarifas retaliatórias se quiser brecar a investida de Trump.
A leitura é que a decisão sobre a tarifa é exclusivamente do presidente americano e passa por fatores que vão além da mera negociação comercial.
Integrantes do governo brasileiro avaliam não estar claro o ganho específico que Trump terá com a imposição das tarifas aos produtos do Brasil, mas creem que se trata de uma estratégia para manter a promessa de campanha de reindustrializar o país.
Nas últimas semanas, além das conversas entre ministros brasileiros e autoridades americanas, a embaixada brasileira nos Estados Unidos também procurou interlocutores no Congresso em busca de respaldo na negociação.
Em caráter reservado, auxiliares de parlamentares relataram incômodo com a forma como Trump tem lidado com as tarifas e uma forte pressão por parte de empresas para tentar brecar as negociações.
Os republicanos, porém, que são maioria no Senado e na Câmara, evitam se posicionar contra o presidente publicamente.
As medidas que entram em vigor nesta quarta devem afetar grande parte das vendas das siderúrgicas brasileiras. De acordo com analistas ouvidos pela Folha, as empresas mais afetadas devem ser Ternium, ArcelorMittal e Usiminas, que exportam importante fatia de suas produções para os EUA. A primeira é a controladora da terceira, mas também tem uma fábrica própria de placas de aço no Brasil, onde tem capacidade de produzir até 5 milhões de toneladas anualmente, no Rio de Janeiro.
Marco Antônio Castello Branco, ex-presidente da Usiminas e ex-diretor da Vallourec, disse à Folha em fevereiro que a ArcelorMittal, assim como a Ternium, alimenta suas unidades nos EUA com aços semi-elaborados do Brasil e, por isso, as taxas devem afetar suas operações internas. Ele estima que as siderúrgicas no Brasil podem perder até US$ 5 bilhões (R$ 29 bi) devido às medidas de Trump.
A Gerdau, por outro lado, deve ser uma das poucas siderúrgicas brasileiras que não serão tão afetadas pela medida. Historicamente, menos de 10% das exportações da produção da empresa no Brasil vão para a América do Norte –a siderúrgica prioriza os mercados da América do Sul, América Central e, recentemente, tem ganhado espaço no mercado europeu.
Lula critica Trump: “Fale manso comigo”
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em evento em Betim (MG) nesta terça-feira. Em meio à guerra comercial promovida pelo americano, o chefe do Executivo disse que não adianta o republicano “ficar gritando de lá” porque ele não tem “medo de cara feia.”
“Todo mundo vai ganhar, nós não queremos o Brasil para nós, queremos o Brasil para vocês. Não adianta o Trump ficar gritando de lá, porque eu aprendi a não ter medo de cara feia. Fale manso comigo, fale com respeito comigo que eu aprendi a respeitar as pessoas e quero ser respeitado”, disse.
Reunião
Na semana passada, Brasil e Estados Unidos deram o primeiro passo para a negociação de um acordo para evitar que as exportações brasileiras sejam afetadas pela elevação de tarifas nas importações de aço e alumínio anunciada por Donald Trump. O assunto foi tratado em uma reunião do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), Geraldo Alckmin, com os dois principais responsáveis pelo tema na equipe de Trump: o secretário de Comércio, Howard Lutnick, e o representante comercial americano, Jamieson Greer.
Além do aço e do alumínio, Trump avisou que vai aumentar as alíquotas de produtos cujo imposto é maior do que o cobrado pelos americanos, como o etanol. Um dos argumentos usados pelo Brasil é que as exportações brasileiras não são uma ameaça às indústrias americanas, porque as economias dos dois países são complementares. Além disso, quem pagará mais caro pelo tarifaço serão as empresas dos EUA, que dependem de produtos siderúrgicos para a produção.
Fonte: Tribuna do Norte